(Evangelhos) O nome do deus

Imagem: Liu Yuanshou

Se eu chamá-lo de Jesus posso amar em paz um homem que não conheço? Posso chamar de transverberação a catarse erótica que a existência dele me provoca? Dar o nome de mística a essa experiência em que me denominam louca, divina ao que me consideram degenerada, elevada a degradação?
O que é amar senão degradar-se? Fazer romper seus próprios limites e se desintegrar no outro? O que é amar senão perder-se, desastrar-se?
O desastre é um céu sem astros, sem ele. O desastre se alojou na minha carne de modo que duvido possuir matéria. O corpo que me foi dado se dissolveu e eu escorro pelas margens.
É possível gritar até que ele me escute? Não. E eu nem quero. É possível gastar as pernas até os joelhos em peregrinação, moer as mãos na busca laboriosa da tragédia? É possível deixar de querer enxergar apenas o rosto dele e se desfazer sabendo que nada mais vai restar quando acabar. A experiência da solidão nos assola como se não tivéssemos sido feitos pra isso.
Rompidos.
Ilhados.
A lua sobre nossas cabeças é a mesma não à toa.

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