Assunção

Antes ela já soube melhor como controlar, como não se deixar levar pela porta aberta sem fundo, como queimar as asas forjadas, as asas de cera, antes que o sol o fizesse.

Antes. Ela conhecia um jeito bonito de cair. Agora, não cai mais. Flutua. A loucura mexeu na gravidade, criou laços com a física. A loucura, que costumava fazer tremer a alma, tornou-se um ponto de equilíbrio.

O mar não está longe. O lago. O rio. Não importa o nome que se dá para o infinito sem borda, refletido, o espelho que se expande pra todos os lugares que ela ama pois desconhecidos.

Ela ascende. Não nada, caminha. Perdeu as asas mas aprendeu a usar os pés para andar sobre as águas.

Milagre.

Outro nome pro amor. O amor é um peso que ela não quer carregar.

Depois de ouvir os sussurros d’Ele, os sons abafados dos quais ela tem medo de madrugada, resolveu que seria bom afundar. A beira é assustadora porque guarda segredos e possibilidades. A dor de se deixar decantar é mais calma, quase pacífica. Já não há mais a promessa do eco porque na água o som se propaga estranho, o grito se assemelha a uma risada histérica. Na água, a dor já se tornou uma piada.

Entre afundar e levitar há apenas a diferença do grau negativo.

Entre o amor e a morte há o sol que derrete as asas e a faz ver que talvez ascender aos céus seja igual a se desfazer como espuma do mar.

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