Hoje, um pra cada “musa”.
VERDADE ESCONDIDA
(2003)
Nada
É o que cabe aqui
No momento perdido
No sentimento esquecido
No passo desperdiçado
Nada
Foi o que restou
Daquilo que eu procurei
Um dia
Da felicidade que eu fingi
Encontrar
Ao lado de quem não existia
Nos lábios amigos
Onde tudo era perfeito
Encontrei escondidos
o rancor e o despeito
No olhar que me sorria
Recebi a escuridão
No afeto que crescia
Não encontrei o perdão
Minha fé que não acaba
Fez ver o que é, na verdade,
O nada
No “nada” encontrei o que é bom.
TU QUE VENS DE MIM
(2004)
Criei-te como minha canção
Entretanto, viveste em mim
Talvez tivesse te encontrado em minha criação
Eu, por natureza, criatura
Fiz-te, complexo de simplicidade,
De forma que hoje não existes,
estás implícito em mim
E de perfeição me injetei
Desenhando teu olhar com matéria pensamento
Então te quis
E me subverti
Como desejar-te-ia se por mim foste feito?
E só para mim
Quando minhas vistas atingiram
Tua finidade
Extasiei-me e mergulhei, sem regresso,
numa amplitude
que ultrapassa meu corpo
que reproduz a intensidade dos teus olhos
que costura teu contato e minha paixão
Tal qual uma ventania de inspiração!
Tu, que antes viveste em mim…
E agora, por teu fascínio, teu divino,
fundi-me a ti.
LATEJANTE
(2005)
Eu te espero
Com a tolice de reparar no encanto do teu sorriso
Eu te espero
Por horas de ócio e de selvagens mágoas
Que somente hão de se aquietar
Com tua distante presença.
Eu te espero
E tudo em mim dói
Doem-me os ossos e os nervos
E a garganta e os ouvidos
De cantar-te, querido,
a canção do meu desequilíbrio.
Eu te espero à meia-luz
Àmeia-noite em pleno dia
Ó, sábia escuridão!
Apaga-se para me confortar
E cobrir meus olhos do teu não chegar
Iludam-me, trevas!
Minta, tempo!
Lateja, lateja…
De tudo que eu vi através de ti
Antes de mesmo saber-te, amor
Ninguém ao menos pensaria, e vão morder a língua!
Iluminar por ti minha saída, exaustiva lida
Esperar-te como quem espera o oxigênio de sua vida
Levando pedacinhos de ti presos aos olhos.
DAREMO SHIRANAI
(2008/2009)
Penso em ti como uma corrente de ar
Que me prendeu em teus cabelos
E me soltou em céu aberto
Como a respiração que levaste
E o ar que deixaste
Respiro
Devagar, contidamente
Como meus olhares a ti
Brevemente
Como minhas poucas palavras
Como uma brisa
Teus olhos enchem-me de nevoeiros
E eu flutuo
Sobre tuas espáduas imaginárias
Sobre teus quadris distantes
E tua brancura intocável
Caminho com um sorriso acanhado, de lado
A ausência é tranquila
como a tranquilidade da falta de teus beijos
como meu caminho de volta para casa
Tranquilo e medonho
Medo da imaginação que ficou
Medo de viajar para teus olhos dourados
Planar por teu peito imaculado
E pousar novamente num abraço inseguro
Vive, ainda e sempre, um muro
Que nem tua brisa, nem teu tornado
Serão capazes de fazer desmoronar.
Imagem: Amy Sol (www.amysol.com)