(insira seu poema sobre solidão aqui)



sinto sua falta
da loucura que é deixar de ser eu mesma
do desnorteio
do corte profundo
da morte no seu corpo
a morte no seu corpo
eu senti quando o toquei
quando o amei
quando seus olhos, à noite, me diziam que não havia esperança
eu senti a morte
o medo         
a dúvida
a morte morando,
emanando do seu corpo
mentira

foi só o amor





Imagem: Alexandra Levasseur

Vem a manhã e eu não sei por que

Então, uma paisagem em branco. Um fundo sem cor e sem padrões. Um pouquinho de dor, um pouquinho de medo. O remorso pela tristeza que deixei de sentir. Hoje. Bastaria uma imagem pra que eu não dissesse mais nada. Uma imagem me faria desistir. Então, veio a primeira cor. A primeira pincelada: azul royal. Se ela diz “paz” ou “desespero” não sou capaz de saber. Se ela tem meu nome impresso em sua textura liquida, eu posso ser alguém. Ela poderia desenhar asas… Mas não. É apenas uma pincelada.

Então, meu dedo machucado invade a tela. A tinta penetra na minha ferida, alojando-se na minha carne, fazendo uma ponte entre os dois lados de mim. Se eu estivesse naquele momento do mês em que conseguiria com facilidade chorar… Mas isso foi há dias. Agora, não tenho lágrimas. O rio no vale entre os lados de mim está seco. Está feito. Estou separada. Sem suturas, sem cicatrizes. Um corte preciso e seco, um só golpe pôs-me partida ao meio, tornou-me duas. A de lá olha a de cá com amor. A de cá tem apenas dúvida. Ela não está mais comigo, pensa. Mas o que importa? A dor da separação, mesmo invisível e sem sangue, perpetua no peito de ambas.

Ainda não tenho uma imagem. Qual a origem dessa minha necessidade de representação? Qual a origem deste silêncio? A segunda pergunta me parece mais fácil de se responder. Vem da noite. E de todos os sons de sentimentos que se perdem no âmago da noite, se encerram nos beijos que os insones carregam no peito. Eu vi o silêncio. Não sei sobre o sentimento deste mundo, mas o silêncio é meu velho conhecido. Nós nos chamamos pelo apelido. Apertamos as mãos, às vezes nos estreitamos num abraço. E, principalmente, nos olhamos nos olhos. Talvez eu esteja apaixonada (e talvez por isso mesmo eu o odeie). Mas ele, o silêncio, me conforta ao mesmo tempo em que me tortura. Aí está mais um indício de amor. Se eu deixar passar, ele vai embora.